Você convive com pessoas que conversam olhando para o celular?
- Vou tomar um café com leite, e você? Um expresso?
- ahnn, sim.
- ok. Precisamos pensar sobre as férias, orçamento e planejar os locais.
- Claro, pode falar, estou ouvindo.
Quem nunca viveu algum diálogo (ou monólogo?) parecido com esse? Se você nunca passou por esse momento entre escolher parar de falar e pedir atenção, ou seguir a prosa sabendo que em algum momento terá que repetir tudo – provavelmente você era a pessoa no smartphone!
Mas a dúvida acabou, fique à vontade para escolher parar a conversa e pedir atenção, a Neurociência está do seu lado!
Hoje é muito comum ver as pessoas se dizendo “multitarefas”, ou “multitasking”. Já vi essa palavra inclusive sendo usada de forma descuidada por palestrantes e recrutadores de empresas. Digo descuidada porque multitarefas no sentido de “ter habilidade” ou ser um “diferencial de currículo” é uma ilusão. O cérebro humano NÃO é multitarefas!
Ah professora, mas o cérebro não é adaptável e plástico? É sim jovem recruta, mas não é função da plasticidade neuronal sobrecarregar as áreas com processamentos simultâneos.
O cérebro não deve ser imaginado como um monte de caixinhas, onde dentro de cada uma tem uma tarefa, ele é mais parecido com um grande salão de dança! As áreas cerebrais não trabalham isoladamente, uma por vez; elas se comunicam incansavelmente para alcançar um objetivo – e dançam uma coreografia maravilhosa, porém, um ritmo de cada vez! Já tentou dançar samba e funk ao mesmo tempo?
Para responder o whatsapp e participar da conversa ao mesmo tempo, o cérebro precisaria usar a mesma infraestrutura neuronal nas ações, o que é fisiologicamente impossível. O mesmo vale para participar de uma reunião e responder e-mails, ler um livro e ouvir a televisão, ler um artigo científico no bar e outras tantas situações cotidianas.
Imagine seu cérebro sendo o salão de dança e você tem dois grupos que precisam ensaiar, um de jazz e um de samba. Os dois até podem dançar ao mesmo tempo, mas o foco dividido nas duas músicas fará com que o desempenho seja mais baixo nos dois grupos.
Esse é o caso de atividades gerenciadas pelo córtex pré-frontal, que exigem atenção e raciocínio.
O único jeito de ser multitarefa e não perder qualidade é se uma das tarefas for realizada no “piloto automático” do cérebro. É o caso de tarefas repetitivas e motoras que não exigem atenção e já foram aprendidas – como andar de bicicleta e conversar por exemplo.
Mas e se eu conseguir alternar o foco entre as tarefas? Também é outra ilusão. Constantes e rápidas alternâncias de foco nos deixam emocionalmente agitados e ansiosos. A ansiedade (velha conhecida) aumenta a liberação de cortisol e adrenalina, que voltam ao cérebro e tumultuam nossos pensamentos – vira um ciclo vicioso! No final do dia, você está mentalmente exausto, e a lista de tarefas continua grande porque você perdeu eficiência!
A grande verdade é que - quando duas tarefas precisam do mecanismo neurológico ao mesmo tempo, uma ou ambas as tarefas levarão mais tempo ou perderão qualidade.
O que eu faço então?! A dica é usar nosso córtex frontal para moldar um ritmo de trabalho/estudo que respeite e favoreça o máximo do potencial mental! Deixar o celular longe do campo de visão e controlar o impulso de abrir mil abas no navegador é um bom começo!
Gostaria de discutir mais sobre neurociência e comportamento? Fique à vontade para me chamar!